As "trairagens" na política de MS 36222e
Existe "traição" na política? Traidor de hoje pode ser aliado amanhã? 42415f
No podcast desta semana a senadora Soraya Thronicke afirmou que foi ‘traída” politicamente várias vezes pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. E foi mais além. Disse que para ser traída pelo ex-presidente basta pegar a senha. Mas o que é “trair” na política? A coluna fez um apanhado sobre as “trairagens” que ficaram na história política de MS.
Na década de 80 o prefeito Levi Dias (1980-1982), nomeado pelo ex-governador Pedro Pedrossian, rompeu com o mentor e ou para a trincheira da oposição, como adversário político. Anos mais tarde, a reaproximação entre Levi e Pedro foi testemunhada pelo jornalista e escritor Oscar Ramos Gaspar.
Para Gaspar, na política o “traidor” de hoje pode ser aliado de amanhã e o aliado de hoje, “traidor” depois de amanhã. “A história política de MS está recheada de episódios de traições a aproximações. O político experiente é aquele que não acusa o golpe e nem promete vingança por algum ato de traição que tenha sofrido”.
Na eleição para governo do Estado em 2014, então candidato do PMDB, Nelsinho Trad – mesmo com o partido tendo a máquina do governo do Estado – não conseguiu a vaga para o segundo turno que ficou com Reinaldo e Delcídio.
Na avaliação dele faltou apoio nos momentos finais da campanha, mas disse que não se considera traído. Houve “descomo de entendimento”, afirmou. E concluiu “Nelsinho perdeu. Mas André não ganhou. Segundo turno apoiei Reinaldo e demos a vitória inesperada a ele. Isso que dá esses descomos”.
Na eleição para senado em 2018 o então candidato Marcelo Miglioli perdeu com uma das vagas para o Senado por muito pouco. Ficou 1,12% atrás da senadora eleita Soraya Thronicke. Questionado se sentiu “traído” na reta final da campanha, Miglioli – que hoje ocupa o cargo de titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep) da prefeitura da Capital – isentou a cúpula do partido, principalmente o então o governador Reinaldo Azambuja – de qualquer ação contrária à sua candidatura. Contudo, reconheceu que a pouca diferença de votos poderia ter sido tirada se alguns dos “companheiros” do partido tivessem se esforçado um pouquinho mais.
Para o cientista político Daniel Miranda, professor da UFMS, falar em ‘traição’ faz parte do jogo político. “É uma das armas para tentar minar a credibilidade do adversário entre os eleitores e/ou entre outras lideranças. Nesse sentido, o termo ‘traição’ pode significar muitas coisas, dependendo do contexto”.
Miranda explica que em alguns casos bem específicos o uso do termo ‘traição’ é um indicativo de um compromisso prévio não cumprido por uma das partes, independentemente de quem esteja certo ou não.
Comentarista político Tércio Albuquerque lembra que uma das mais memoráveis traições políticas e que até hoje é lembrada foi a que os senadores do império romano do contra o imperador Júlio César, e dentre os traidores estava seu filho adotivo Senador Marcus Brutus.
Na política, na avaliação de Albuquerque, existe sim traição ou entre os políticos que se materializa quando “amigos políticos” se convertem em “inimigos políticos” porque um deles abandonou o caminho que seguiam juntos. “Os motivos são muitos: ganância, medo de perder, desconfiança e a famosa dissidência política, tão comum, mas é traição”. E conclui “Hoje a traição é tolerada, mas pode custar um grande preço”.